segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Medo

Tememos acordar. Tememos pôr o pé pra fora de casa e sermos assaltados. Tememos aquele sujeito de roupas rasgadas e olhar mal encarado parado na esquina, mas também tememos o cara bem vestido escondido naquele carro preto de insul-films escuros cruzando a avenida. Tememos que ele e sua gangue de cinco brutamontes mal encarados nos sequestre. Saímos de casa feito loucos, sempre com os horários apertados, mas também tememos bater o carro. Nossa pressa é maior que a do outro. Mas vai que aquele maluco do Voyage azul não respeita o sinal no cruzamento. Tememos que nosso carro fique mais amassado que o dele.

Tememos o olhar furioso que o chefe nos dispara ao chegar. Tememos chegar atrasado, odiamos quando isso acontece. Tememos receber o bilhete azul, a porta da rua é serventia da casa. Nesses tempos de crise, tememos a demissão.

Tememos errar em serviço, mas é um risco calculado que nós temos que aceitar. Tememos sequestro relâmpago também, afinal, hoje é dia de pagamento. Tememos reagir e tomar uma bala nos miolos, tememos não reagir e igualmente tomar uma bala nos miolos. mas também tememos que a viagem seja inútil, afinal ninguém sabe se o salário já caiu. Tememos os credores e o débito automático. Tememos a gripe suína.

Tememos aquela manifestação ali, no cruzamento onde um Voyage maluco quase detonou minha lataria. Ninguém sabe que tipo de gente é aquele. Tememos a dengue, a gripe aviária e a doença do sono africano. Tememos que a umidade que vem da casa do vizinho crie uma rachadura e a casa caia sobre nossas cabeças. Tememos tudo. Mas temos que dormir tranquilos que amanhã tem mais.

Um comentário:

  1. Adorei :O tipo, não podemos mais, sequer, viver em paz porque não sabemos se comprar pão é uma tarefa segura, não sabemos se deixar o nosso filho ir brincar na casa de um amigo é realmente confiável, se sobreviveremos a ida e a volta do trabalho...

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